O primeiro sequenciamento do mapa de genes humanos, completado no início dos anos 2000, custou US$ 2,7 bilhões. Em 2007, esse valor caiu para US$ 350 mil e hoje, apenas dez anos depois, já há empresas que realizam o serviço por cerca de US$ 1.000. Uma queda exponencial de preço, e um aumento exponencial de disponibilidade para os consumidores.
“Exponencial” é uma palavra que as pessoas, em especial os empreendedores, precisam ter em mente para se adaptar ao futuro.
A CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO DAS MÁQUINAS, A VELOCIDADE COM QUE NOVAS TECNOLOGIAS MUDAM HÁBITOS DOS CONSUMIDORES, O APARECIMENTO E O DESAPARECIMENTO DE PROFISSÕES: TUDO OCORRE DE FORMA EXPONENCIAL.
E aprender a enxergar a evolução exponencial das novas tecnologias é uma prática desafiadora para todo ser humano, naturalmente dotado de um pensamento linear. Ao mesmo tempo, é uma realidade que nenhum empreendedor pode fugir, se quiser realmente construir um negócio relevante nos dias de hoje.
Esse cenário (ameaçador para uns, instigante para outros) foi exposto por Pascal Finette, que lidera os programas de empreendedorismo da Singularity University, na abertura do Endeavor Retreat. O evento reuniu Empreendedores Endeavor e mentores de todo o mundo na semana passada, na Califórnia. Em pauta: como se preparar para continuar transformando mercados nesse cenário tão disruptivo.
Neste artigo, nós selecionamos algumas das principais lições que tiramos ao longo desses 3 dias de evento. Confira, você e sua empresa estão preparados?
Da escassez à abundância
Até bem recentemente, estávamos acostumados à ideia de escassez: por exemplo, comprar um disco, fita K7 ou CD com não mais que duas dezenas de músicas. Só que hoje, com a digitalização dos mercados, ter acesso instantâneo a milhares de canções custa praticamente nada. E isso muda fundamentalmente os modelos de negócio de toda uma indústria.
Pensar nisso quando o assunto é música, em que o fenômeno já aconteceu, é mais simples. Mas já é possível prever o que implicaria esse mesmo efeito da abundância mesmo em setores bem tradicionais e aparentemente distantes de uma grande mudança.
Pascal contou que já conversou sobre o assunto com gente da indústria farmacêutica: e se, no futuro, os consumidores conseguissem eles mesmos “imprimir” os remédios, em casa mesmo, tendo por base a informação sobre a estrutura de seus compostos, em vez de comprá-los na farmácia? As empresas do setor migrariam de fabricantes de remédios para fornecedoras das fórmulas dos produtos.
NÃO É INCABÍVEL PENSAR EM UM “SPOTIFY DE MEDICAMENTOS” NO FUTURO
Para ele, o grande desafio é acompanhar as curvas exponenciais de evolução de tecnologias-chave como a energia solar ou a impressora 3D, por exemplo, e que mudanças serão possíveis quando essas tecnologias se tornarem muito mais acessíveis.
Diante disso, ele listou perguntas que costuma fazer aos alunos: “Para onde isso vai? Quando ficará barato? E quão barato será?”. E talvez a principal: “O que será possível fazer com isso no futuro?”.
O mundo não anda mais em linha reta, e isso é desafiador, especialmente para negócios consolidados. “Quando a empresa chega ao product market fit, quer defender o status quo, o que faz sentido, já que ela quer defender o que conquistou. E começa a trazer funcionários que defendem o status quo”.
“Se você quer promover a disrupção, você precisa trazer pessoas que vão fazer isso”, aconselhou ele. Essas pessoas precisam ter autonomia para pensar o negócio de um jeito completamente diferente. Elas podem, por exemplo, ser organizadas em “squads” ou em uma “empresa satélite”, que vão, “aos poucos, fazendo mudanças que podem crescer a ponto de se tornar o negócio principal”.
E se o mercado acabar?
Não são apenas os empreendedores de tecnologia que devem ficar atentos a essas transformações: a sociedade toda será impactada, o que promete mudar radicalmente o mercado consumidor. Yvon Chouinard, o inspirador empreendedor por trás da marca de roupas e equipamentos esportivos Patagonia, fez a plateia pensar realmente sobre seu papel nesse cenário, tanto do ponto de vista ambiental quanto humano.
“Nós estamos entrando em uma era muito difícil. Funcionários de fábricas estão sendo substituídos por robôs, outros estão sendo substituídos pelas tecnologias digitais. Dizem que, até 2030, 38% dos trabalhadores de hoje estarão sem emprego. Isso significa que não vai haver nenhum consumidor: não podemos continuar nessa dinâmica de consumir e descartar, consumir e descartar, e esperar que o mercado esteja sempre ali”, refletiu ele, conhecido por levar a questão às últimas consequências.
Ele pergunta aos clientes, nas etiquetas dos produtos: você realmente precisa disso? “Tentamos fazer nossas roupas durarem o máximo possível, para que elas possam ser usadas por um longo tempo ou recicladas para criar outras”, contou o empreendedor. Para ele, as novas gerações valorizam isso cada vez mais. “Os millennials acreditam em autenticidade. Eles estão preocupados com a destruição do planeta e apoiando companhias que são responsáveis. Não dá para evitar isso.”
Da fazenda à mesa
Esse consumidor mais consciente e mais munido de informação também vai exigir cada vez mais uma mudança em que nossa comida é produzida. “As pessoas querem saber de onde vem a comida”, disse Rob LeClerc, fundador da Agfunder. “Isso vai gerar transformações em toda a cadeia, da fazenda à mesa: a tecnologia vai permitir que o consumidor rastreie de onde aquele alimento vem para tomar uma decisão consciente sobre o que comprar.”
“A TECNOLOGIA VAI TORNAR O CONSUMIDOR MAIS PODEROSO: AS EMPRESAS TERÃO DE PRODUZIR O QUE O CONSUMIDOR QUER”, CONTOU ALEX BORSCHOW DA SEMILLERO VENTURES
Novas formas de aprender
Diante disso, é preciso promover mudanças na educação: preparar as pessoas para atuar em um cenário em que a economia muda muito rapidamente, gerando altos níveis de instabilidade e incerteza. Isso exige novas habilidades.
Esteban Sosnik, Empreendedor Endeavor e hoje sócio do Reach Capital, um fundo de investimento para negócios de educação, deu alguns exemplos de capacidades que precisamos desenvolver: resolução de problemas complexos, pensamento crítico, gerenciamento de pessoas, capacidade de trabalhar em conjunto, inteligência emocional e criatividade.
São coisas que não são ensinadas na maioria das escolas, mas deveriam.
“ESTAMOS MUDANDO DE UM MODELO MERAMENTE INSTRUCIONAL PARA UM OUTRO EM QUE NOVAS HABILIDADES SÃO NECESSÁRIAS, E AS ESCOLAS NÃO ESTÃO ENSINANDO ISSO HOJE.”
Como a sociedade precisa se adaptar
Se há algo absolutamente “exponencial” é a capacidade de as máquinas aprenderem –o que já provoca o desaparecimento de funções e profissões, e o aparecimento de outras. Para o economista e cientista político Francis Fukuyama, professor da Stanford University, o grande desafio é que a sociedade “desenvolva as habilidades necessárias em um mundo em que parte do que faremos será substituído pela Inteligência Artificial”. O que “implica uma disrupção cultural — e a maioria das pessoas não gosta desse tipo de mudança”.
Assim, o professor, conhecido pelo best-seller “O Fim da História e o Último Homem”, prega que deve haver uma relação de maior colaboração entre o setor público e os empreendedores. Para que essa mudança de paradigma ocorra de fato, é necessária uma ação coletiva, uma “agenda mobilizadora” para que a sociedade prepare-se para a automação e para outras grandes novidades que vêm por aí.
Aliás, para Fukuyama, o envolvimento de empreendedores com política é inevitável: “Se ficarem de fora da política, a política vai visitá-los, talvez com intenções regulatórias — o que pode não ser bom para os negócios”.
Fonte : Site www.endeavor.org.br
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